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Prelúdio aos Dias Melhores


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Em 2020, quando perdi meu pai, encontrei naarte, uma forma de externalizar e processar meu luto. E, embora sempre tenha utilizado minhas criações como linguagem, até aquele momento, nunca havia me expressado com tanta sinceridade.


Falar sobre o que eu sentia, me trazia uma sensação de absoluto alívio e realização pessoal, pois me encantei pela possibilidade de gerar identificação e fomentar diálogos sobre questões que me atravessavam, como a relação com o meu corpo, sexualidade e afetos. Porém, no início deste ano, quando me dei conta de que criar arte sobre estas questões não era um esforço suficiente para lidar com elas, tomei a decisão de fazer terapia.


A princípio não imaginei que a tomada desta decisão influenciaria a percepção sobre meu trabalho de forma tão definitiva. Indiretamente, alimentei a narrativa do artista que resignifica a própria dor, abrindo mão de outros elementos que costumavam habitar o meu imaginário. E, quando comecei a lidar com a dor na terapia, perdi o interesse em retratá-la na arte. Mesmo a melancolia, que trazia no subtexto de minhas criações, deixou de fazer sentido. Em uma sessão, teci o comentário: "talvez o meu eu mentalmente saudável tenha matado o meu eu artista".


Felizmente, depois de um tempo, a afirmação revelou-se um equívoco, acompanhada de outras revelações importantes. Hoje, me percebo uma pessoa bastante ansiosa, com o desejo recorrente de ter controle sobre as situações, sobre as impressões que causo nas outras pessoas. Talvez as perguntas que eu tenho me feito há anos fossem: O que as pessoas esperam de mim? o que devo fazer para me sentir benquisto?. Só agora compreendo o peso de minhas questões e de como a arte não tem compromisso algum de carregá-las.


Ando tentando me reconectar com a espontaneidade, dar espaço às experimentações e os desejos simples, e abdicar do esforço em conduzir narrativas sempre. Naturalmente, também me liberto de pensamentos como: "sobre o que esperam que eu fale agora?", pois gosto genuinamente da ideia de que a arte pode ser apenas sentida.

 
 
 

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